MARSDEN WOO PROJECT SPACE

Interview with Renato Bezerra de Mello by Tessa Peters and Maria Donato
15 September – 30 October, 2011

Your title for this exhibition is “The crumbs of childhood”. Is this a quote? If so, where does it come from?

The title of the exhibition comes from a chapter of a posthumously published book, “Eternity Regained”, by Marguerite Yourcenar, an author I deeply appreciate. I have the habit of finding titles of works and exhibitions in the books I read, songs I hear or movies I watch.

In this case, I thought the title would go well with the concept of the works; there are six in a not very large space. I was thinking about a child who plays alone in his bedroom and just for a little bit with everything all at the same time.

 So both the title and the scale of many of the works point to the theme of childhood memory. Are these memories at all autobiographical?

Yes, but in the sense that an autobiography is always a creation, a fiction.

– As duas obras em vídeo compartilham um sentido de enfática repetição, porém elas contrastam nitidamente em termos de tema e carga emocional. Mes enfants, mes enfants nos mostra um mundo íntimo e restrito, ao passo que Macaxeira, um vídeo feito dentro de um edifício em ruínas, deixa o espectador ver além do espaço, de tal maneira que os fragmentos do teto pareçam nuvens ou estrelas no céu. Quais são as ideias subjacentes nessas duas obras?

“Macaxeira”, que em inglês quer dizer manioc, é o nome do bairro onde havia uma fábrica de tecidos que pertenceu ao meu avô e ao meu pai, no Recife, cidade onde nasci, no Nordeste do Brasil.

Recentemente estive lá e visitei as ruínas desse lugar tão importante para mim. Tudo me entristeceu e encantou ao mesmo tempo. Este vídeo é um fragmento do meu olhar atônito.

O teto pintado de azul me pareceu um céu e as placas de gesso, lindas nuvens. Essas cores, porque também tem o verde, fizeram-me pensar nas casas caiadas do Nordeste, que são belíssimas. A pintura com cal é muito bonita e infelizmente está desaparecendo.

‘Mes enfants, mes enfants’ shows Téo, the child of some friends, discovering a collection of penguins that belonged to me. The repetition emerged naturally from his movement around the table, the roly poly penguin that is made to turn, and, finally, from the sound of the little music box and the bewitching words of the child. Repetition is a constant element in my work, not only in videos, but also in my drawings and embroidery.

Repetition is a constant element in my work, not only in videos, but also in my drawings and embroidery.

 The concertina graphite drawing ‘To see what is left’ has a fairytale quality. Are these specific houses or do they come from the imagination?

The little concertina houses are fruits of the imagination. They indeed make us think of the little houses of children’s stories, but also of real small houses, which we can find in any country. I’ve seen some of them here in the English countryside.

They are models of the little houses I want to build in wood, also very small, and that I may set fire to later.

– The other works on paper include the ‘Caran d’Ache’ diptych and the ‘Fortaleza, fortitude, fortress’ texts. What kinds of childhood memories do these works evoke for you?

For some time I wanted to work with my Caran d’Ache pencils and pastels, but this has only recently started to happen. When I was a child they were expensive and hard to find, and this made me shy, because it differentiated me from my schoolmates, which I didn’t want to happen.

Aqui eu reconstituo a imagem de uma caixa de lápis que eu nunca tinha visto antes. Adoro o fato de ela ser recoberta de flores, pois nas caixas de lápis que tive quando criança figuravam sempre as montanhas nevadas da Suíça.

As I already mentioned, when I was a child I was interested in the patterns of fabrics that I saw when I visited the family factory with my father. At home I used to draw the patterns, often depicting flower motifs, but I felt a bit ashamed, because I thought it was too girlish. This idea persists today, does it not?

A obra Fortaleza, fortitude, fortress foi motivada por uma frase que recentemente escutei de minha mãe. Ela está completando 80 anos e me disse não se sentir mais a Fortaleza que sempre acreditou ser.

Resolvi, então, passar para essas folhas de papel a surpresa causada pelo que escutei, transcrevendo os diferentes sentidos da palavra “fortaleza” e de outras com as quais a associei. O papel cor-de-rosa, que eu guardava há anos, assim como o fino traço branco são uma referência à delicadeza da minha mãe.

Eu entendo que as memórias aqui evocadas não são apenas minhas ou da minha infância. Elas são de todos nós e nos acompanham por todo o tempo.

– Você já nos contou que as bolas de gude da obra Brincar de novo, todas espalhadas no chão como um jogo em andamento, foram esculpidas a partir de cubos de giz para tacos de bilhar. Qual é o significado da sua escolha de material?

Há uns três anos, cascavilhando papelarias numa cidade de interior, comprei uns cubos vermelhos de giz de sinuca, até então achava que eles só existiam em azul. Ao voltar para o ateliê deixei-os sobre uma das mesas de trabalho, onde ficaram até há bem pouco tempo, esperando algo acontecer.

Quando vocês escolheram a concertina para esta exposição, eu resolvi enveredar pelo caminho da infância, chegando a essa ideia de transformar os tais cubinhos de giz em bolas de gude.

No comércio, descobri que existiam várias cores, o que de início não me interessou, pois eu estava pensando a exposição em diferentes tons de grafite. Mas mudei de ideia, e as cores começaram a entrar em todos os trabalhos.

Eu acho que esse material – como outros com os quais trabalho – está caindo em desuso.

Criança, eu gostava mais de passar o giz na ponta do taco de sinuca do que propriamente de jogar. Caía um pozinho que sujava as mãos e cobria as coisas em volta de azul. O atrito entre o giz e o couro gerava um pequeno desconforto.

Os significados da escolha desse material são muitos, nada muito preciso.