Amateur d’art: par Lunnettes Rouges

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Depois da descoberta entusiasta do Centro de Arte Carpe Diem (que comemora seus cinco anos), eu voltei para a sua nova exposição (até 20 de dezembro): um espaço notável e exigente, que reivindica das obras expostas densidade, para fazer face ao espírito do lugar. De imediato, fiquei menos convencido por certas peças apresentadas, muito neutras ou extremamente leves e irônicas, enquanto outras, mais uma vez, souberam ocupar o espaço com nobreza e força.

Assim, Mafalda Santos construiu, no Salão de Honra, um muro feito de folhas de papel empilhadas, com discretos efeitos de cor fundidos nas suas bordas, e no jogo de luz do sol: é uma destruição, uma biblioteca em ruína, um monumento funerário ao papel, aos livros, um memorial de burocracias mortas. É também uma escultura minimalista, um obstáculo de uma falsa leveza, enganador, que é preciso contornar, e em relação ao qual o corpo quer ser medido, em vão, imprimindo ali, por vezes, a sua sombra.

Na cozinha, é um trabalho de memória, um outro monumento com o qual nos confrontamos: aquático, marinho, flexível e convexo, de milhares de cores entre o cinza e o azul. Renato Bezerra de Mello, pensando no oceano que desde a sua cidade natal, Recife, o separa de Lisboa, acumulou centenas de rolos cobertos de tinta azul, empilhados sobre uma longa mesa. Dessa acumulação nasce um sentimento de beleza irrisória, de impotência humana, e de nostalgia sonhadora, que fortalecem, dissimulados nos obscuros recantos da peça, três vídeos também marinhos, enevoados e úmidos.  

Nesta exposição, também notei o interessante trabalho pós-colonial de Sandro Ferreira, e o jogo de palavras de Tim Etchells (bastante presente em Lisboa este ano), que acompanha uma série de fotografias de textos na cidade (grafites, slogans, …), feitas por jovens amadores, alguns muito talentosos.